ENTREVISTA COM NILTON BONDER E CLARICE NISKIER
RJTV - 08/SET/2006

Ela divulgava um monólogo, ele, um livro recém lançado. Ela ganha o livro de presente. Se apaixona pela leitura e resolve transformar "A Alma Imoral" em peça de teatro.

Um desafio que virou um casamento profissional de sucesso entre a atriz Clarice Niskier e o rabino Nilton Bonder. Eles falam dessa parceria que está no palco do teatro do Leblon.

RJTV: O que te tocou, o que te impressionou durante essa leitura, que fez com que você quisesse levar esse livro para o teatro?

Clarice Niskier: O Nilton, ele escreveu um livro incrível, muito intenso, que lança um olhar diferente sobre o certo e o errado, o que é bom e o que é correto, a obediência e a desobediência, a traição e a tradição. São conceitos e são idéias, que no nosso dia-a-dia, são muito importantes. Então, quando você faz uma leitura diferente desses conceitos, isso te abre, isso te liberta, te faz muito bem. Então, eu queria passar isso para as pessoas.

RJTV: Esse é um conceito de alma imoral, Nilton?

Nilton Bonder: É, o livro, eu que ele inverte o que a gente normalmente tem como noção de corpo e alma e normalmente a gente diz que o corpo é o lugar da tentação, é o lugar onde a sensualidade está presente e a gente sempre trata a alma como aquele puro. A idéia do livro é mostrar que muito da alma de uma pessoa é, na verdade, o lugar ousado, o lugar que é capaz de fazer movimentos de transformação e vai por aí...

RJTV: Como é que foi, Clarice, o desafio de adaptar um texto reflexivo, sem ação dramatúrgica, para o teatro?

Clarice Niskier: Como nós nos conhecemos num programa e era um programa sobre religião, quando eu acabei de ler o livro, no programa eu deixei de responder uma questão, na verdade eu não consegui responder a questão, que eu me auto-intitulei uma judia budista. Uma pessoa ficou um pouco contrariada e eu recebi um fax de uma telespectadora que dizia que isso não existia. Ou eu era bem judia ou eu era bem budista. Eu fiquei muito sem graça na hora porque eu não queria provocar ninguém, não queria causar um constrangimento. Eu queria só dizer que foi uma sinceridade minha, vamos dizer assim. Então eu fiquei um pouco sem resposta. Quando eu acabei de ler o livro, eu encontrei a minha resposta, uma resposta simples, mas uma resposta ligada às obediências sagradas e as desobediências sagradas e como isso dizia respeito a minha pessoa.

RJTV: O rabino já escreveu 16 livros e alguns best-sellers nacionais e internacionais, dá palestras em todo o canto sobre esses livros. Como é que é ver um texto seu, um pensamento seu verbalizado, interpretado?

Nilton Bonder: Foi muito especial, eu fiquei extremamente comovido de ver essa transformação que é muito difícil. Eu acho que a Clarice consegue dar uma dimensão ao texto escrito que eu acho que aprofunda. Então, a maneira como ela criou uma dramaturgia para o texto que eu acho que é profundo, é muito especial.

RJTV: O que é melhor, ler o livro ou ver a peça?

Nilton Bonder: Eu nunca li o livro, eu escrevi o livro... Mas ver a peça é muito bom.

RJTV: Essa peça também leva o público a uma reflexão pessoal?

Clarice Niskier: Com certeza. Como eu converso muito com o público, eu acho que essa parte afetiva, essa parte dos sentimentos está muito presente. Assim que eu acabei de adaptar, nós recebemos um prêmio Funarte Petrobras e depois, para o Teatro Leblon onde está a peça, nós ganhamos o patrocínio da Eletrobás. Tudo isso motivou, entusiasmou muito a gente.A peça vai até o dia 18 de outubro no Teatro do Leblon.