TIRAR SAPATOS PARA REVER IDÉIAS
E BUSCAR A PAZ O GLOBO - SEGUNDO CARDERNO - PÁG.2 - 15/10/2008 Há dois anos, o rabino Nilton Bonder recebeu um convite que não conseguiu recusar, apesar da agenda concorrida, com casamentos e barmitzvás que devia celebrar. Um professor de Harvard, William Ury, chefe do Departamento de Mediação de Conflitos, chamou-o para ser o único rabino da delegação que iria trilhar, pela primeira vez, o Caminho de Abraão, trajeto turístico-religioso de 1.200 quilômetros que busca refazer no Oriente Médio os passos do patriarca das religiões monoteístas. A experiência, em novembro de 2006, foi tão marcante - e, muitas vezes, difícil - para Bonder que ele resolveu compartilhar em um livro a história dos percalços que encontrou. Em "Tirando os sapatos" (Rocco), que autografa hoje, às 19h30m, na Travessa do Shopping Leblon, ele conta como chegou a sentir medo na peregrinação da Turquia à Cisjordânia - um medo bastante complexo: de renegar seus fundamentos, de se perder, de sucumbir ao ódio ao outro e, sobretudo, ao ódio de si próprio. Como diz no prefácio o jornalista Ali Kamel, ao nos convidar "a tirar os sapatos", Bonder "acaba por se revelar por inteiro, como que despido de qualquer proteção". "Tirar os sapatos" foi a metáfora que encontrou para
traduzir sua experiência. Obra tem primeira pessoa como fio condutor O livro intercala dois tipos de relato: o que escreveu de seu punho, com considerações mais subjetivas, e a ágil narrativa da viagem, compilada pela jornalista Tania Menai a partir de entrevista com o rabino. Diferentemente de boa parte dos livros de Bonder, autor de "A alma imoral" (adaptada para o teatro por Clarice Niskier), a nova obra tem como fio condutor a primeira pessoa. Na viagem, mais do que tolerar, o desafio foi exercer a hospitalidade.
"Nenhum viajante pode sobreviver sem hospitalidade. Há vários
níveis de hospitalidade, das mais rudimentares às mais calorosas.
Porém, sem hospitalidade não há viagem, não
há vida. Essa é a grande virtude que Abraão terá
que conhecer e cultivar. Ele se faz um mestre da hospitalidade",
escreve. O trajeto - mapeado aos poucos pela ONG Abraham Path Iniciative - começou em Sanliurfa, na Turquia, cidade a 40 quilômetros de Haran, onde Abraão ouviu o chamado de Deus. De lá, o grupo seguiu por cidades da Síria e da Jordânia, passou por Jerusalém e se despediu em Hebron, no túmulo do patriarca. Em Belém, Bonder se sentiu incomodado com o muro construído
para separar israelenses e palestinos. No entanto, diz que suas críticas
não têm teor político: |